Essa reportagem é para meus colegas de curso e professores de Língua Inglesa. Enjoy it!!
Cada vez mais utilizada como fonte de pesquisa, a
internet tem a maior parte de suas páginas em inglês. Por isso, a proposta de
incluir a rede mundial de computadores no ensino de idiomas é bastante oportuna
porque apresenta aos alunos um conhecimento de aplicação imediata. Para ser bem
explorada, entretanto, essa união precisa ter uma característica fundamental:
considerar os usos reais do inglês (segundo a tendência dominante no ensino de
Língua Estrangeira, a sociointeracionista, essa é a maneira mais adequada de
lecionar a disciplina). O trabalho da professora Débora Lisiane Carneiro Tura,
da EEEB Dom Pedro I, em Quevedos, a 398 quilômetros de Porto Alegre, combina
todas essas virtudes. Para apresentar o inglês à 5ª série, ela desenvolveu um
projeto em que o idioma é ensinado com base na leitura e escrita de textos para
blogs (páginas pessoais usadas para divulgar características de seus autores):
quem são, como vivem, por quais assuntos se interessam e quais suas opiniões
sobre eles.
Bem-sucedida, a iniciativa rendeu a Débora o troféu de
Educadora Nota 10 no Prêmio Victor Civita de 2008 (leia mais
sobre o projeto no quadro "O desafio de entender e criar blogs").
"Com a opção por uma atividade real de comunicação, ela fez com que a
turma entrasse em contato com textos autênticos, que existem também fora do
ambiente da sala de aula. Além disso, fez a produção ter sentido para a
garotada", diz Andrea Vieira Miranda Zinni, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e selecionadora do Prêmio.
Noções básicas de informática fazem o
projeto decolar
Blogs, porém, não são a única alternativa para mergulhar nas situações
comunicativas "de verdade" que existem na internet. "Eles são
apenas um dos gêneros disponíveis entre tantos outros: notícias informativas,
páginas de receitas e sites com resenhas de cinema, por exemplo. Nesse sentido,
a sequência de atividades desenvolvida por Débora pode servir de inspiração
para qualquer trabalho que envolva o uso real do idioma na rede", opina
Andrea (leia projeto
didático que utiliza a web para que a turma conheça álbuns fotográficos
escolares e saiba produzir um deles).
Para começar, é inevitável reservar um espaço para entender como funciona a rede
mundial de computadores. Uma boa alternativa é buscar na própria web os
chamados tutoriais, textos que ensinam passo a passo o funcionamento de
recursos digitais. Nas aulas, vale também dividir as dúvidas com os alunos, que
muitas vezes manejam a tecnologia melhor do que os professores.
Com essa primeira missão cumprida, é hora de enfrentar outra dificuldade: a
precária infraestrutura das salas de informática nas escolas. Se o número de
computadores for muito pequeno, divida a turma em dois grupos. Enquanto um usa
os aparelhos, o outro faz atividades em sala de aula - por exemplo, revisando
os textos já produzidos.
O.k., agora que a parte tecnológica está em ordem, você deve planejar
detalhadamente a proposta de atividade em língua inglesa. Se a intenção for
considerar o uso real do idioma, um primeiro passo é selecionar qual gênero
será abordado. A escolha, porém, deve sempre estar a serviço de um propósito: o
que você pretende ensinar. Sem definir conteúdos, o trabalho com gêneros corre
o risco de perder o foco. No exemplo de Débora, a opção foi enfatizar, nos
textos dos blogs, as chamadas wh questions (What
is your name?, Where do you live?, Who is your best friend? etc.),
perguntas com respostas abertas que são essenciais para a construção de apresentações
pessoais, algo bastante útil para quem está tendo seu primeiro contato com a
língua.
O momento seguinte, ainda parte do planejamento, é procurar bons exemplos de
textos que correspondam ao conteúdo que se quer ensinar. Nesse ponto, os dois
lembretes mais importantes são escolher autores que sejam falantes de inglês (o
que reduz a probabilidade de erros ortográficos e gramaticais) e páginas com
conteúdo adequado para a turma (o que ajuda a evitar "escapadinhas"
para sites perigosos).
Leitura constante
para aprender características discursivas
A partir dessa etapa, a sequência ganha muitas semelhanças com o ensino da
língua materna: é principalmente por meio da leitura constante de boas produções
do gênero escolhido que os alunos aprendem características discursivas e
linguísticas que indicam tanto quem escreve como o provável leitor. No caso de
idiomas como o inglês e o espanhol, essa atividade favorece que a turma
compreenda as ideias gerais, levando em conta o contexto, mesmo antes de
dominar completamente a língua. "Para isso, é comum lançar mão de
estratégias como a leitura de imagens ou recorrer a palavras com raízes
similares em português", explica a consultora Andrea.
Familiarizada com o gênero, a garotada parte para a produção. Nessa etapa, o
importante é reforçar a utilidade das estruturas aprendidas. Na classe de
Débora, as wh questions foram essenciais para a construção de
textos sobre as preferências e os interesses dos alunos, informações sobre
família e amigos, suas rotinas, o que fazem na escola e no tempo livre. É
preciso ter claro, ainda, que toda a produção deve vir acompanhada de sessões
de revisão para que a moçada possa refletir sobre o que escreveu e avançar.
Uma última recomendação é evitar cair na tentação de traduzir tudo para a
turma. Procure ser uma referência como falante da língua, recorrendo ao
português apenas em último caso. Para tirar dúvidas ou dar alguma explicação,
prefira a associação com imagens - ou, ainda, busque sinônimos que possam
facilitar o entendimento. Esse é o caminho mais eficaz para aumentar a
autonomia no aprendizado de um idioma cada vez mais necessário no dia-a-dia.
O desafio de
entender e criar blogs
Casada e mãe de duas filhas, a gaúcha Débora Lisiane
Carneiro Tura é formada em Letras e tem pós-graduação em Metodologias de Ensino
da Língua Inglesa. Para tornar realidade a iniciativa que lhe rendeu o Prêmio
Victor Civita - Educador Nota 10 em 2008, ela ficou quatro horas a mais por
semana com a turma de 5ª série. "Isso foi necessário porque aqueles alunos
estavam sendo apresentados não só ao inglês mas também à internet. Poucos
tinham computador em casa", diz.
Objetivos
Com duração de um semestre, o projeto que visava apresentar o inglês aos alunos
começou com a leitura de blogs variados para criar familiaridade com o gênero.
Em seguida, veio a escrita na internet. Primeiro na forma de blogs coletivos,
em que todos trabalhavam juntos, somando saberes para construir os textos.
Depois, quando a turma já demonstrava mais segurança, Débora incentivou a
produção de blogs individuais e colaborativos, com os alunos redigindo os
próprios textos e comentando os dos colegas. Cada produção, é claro, vinha
acompanhada da indispensável etapa de revisão.
O passo-a-passo
Quanto maior era o contato com a leitura, a escrita e a revisão coletivas, mais
elementos os estudantes tinham para conversar com os amigos virtuais e voltar
aos textos feitos inicialmente para reescrevê-los e aprimorar forma, conteúdo e
estilo. "Aos poucos, eles passaram a produzir textos de modo mais
autônomo, interagindo com agilidade e usando estruturas linguísticas mais
complexas. Também foram se sentindo mais preparados para deixar comentários em
outros blogs", lembra Débora. A professora interferia, ressaltando as
regularidades que apareciam nos textos, chamando a atenção para o vocabulário
sobre os modos de vida dos colegas, os gostos e a descrição de lugares e de
profissões.
Avaliação
Débora utilizou como parâmetro tanto as atividades de produção individual como
a participação na revisão coletiva. Os momentos de colaboração com os colegas e
a participação nas atividades também ajudaram a professora a notar dificuldades
e planejar quais conteúdos precisavam ser enfatizados nas aulas seguintes.
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